segunda-feira, 28 de junho de 2010

O ESPORTE UNE POVOS E NAÇÕES


Evan Bessa



O mês de junho tem sido mais animado que de costume. Além das manifestações alusivas a Santo Antônio, São João e São Pedro, quando os estados nordestinos promovem suas festas e alegorias específicas, o ano de 2010 vem nos proporcionando a Copa do Mundo. Tempo de grande euforia e ansiedade para os cento e noventa milhões de brasileiros. Cada jogo do Brasil provoca no seu povo, tensão, emoção exarcebada e alegria, até o grito do primeiro gol. Ninguém consegue se concentrar no trabalho ou em outra atividade qualquer nos dias de jogo do Brasil. Copa do Mundo só acontece de quatro em quatro anos, por isso não se pode perder nenhum lance.

A população inteira, de norte a sul, de leste a oeste fica mobilizada para acompanhar os resultados das partidas, a fim de se posicionar diante da seleção do país. Cada torcedor é um técnico e tem um discurso prático para escalar melhor a seleção, e, consequentemente, obter vitórias sucessivas. E haja críticas ao técnico, aos jogadores, enfim à equipe responsável pela preparação física, médica, psicológica...

O esporte tem essa capacidade de unir nações, povos, culturas, mesmo as que divergem entre si por problemas políticos, econômicos, culturais, dentre outros, se alinham na mesma direção durante o período da Copa do Mundo. A linguagem passa a ser a mesma. Sentimentos compartilhados na hora da aflição, do desespero ou nos momentos de regozijo. A língua deixa de ser o maior entrave no relacionamento entre torcedores, porque as reações decifram os códigos e todos terminam se entendendo. As relações interpessoais fluem de forma mais simples possível, porque o objetivo de todos é a vitória dos times e o título tão almejado no final do certame.

Quem levantará o caneco; ou melhor a taça? Brasileiros, Argentinos, Alemães, Holandeses, ou outro país? Ninguém pode adivinhar! A única solução é esperar o último jogo, para conhecer aquela que receberá o título de Campeã do Mundo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

SORTE

Evan Bessa

Um dia, a sorte chegou,
Iluminou minha vida.
Tirei partido do instante
E criei ânimo pra lida.



O sol clareou os caminhos,
O vento soprou a favor.
E o destino deu uma ajuda
Para encontrar um amor.



A vida ficou mais plena,
A alegria logo voltou.
E passei a acreditar
No bem que ela me causou.
O PÁSSARO DO MEU JARDIM

Ele chega logo cedo, todas as manhãs e entoa seu canto com maestria. Gira no ar e pousa nos galhos espalhados pelo jardim. Pára por alguns minutos, observa ao seu redor e retoma aquele canto melodioso que entra pelos ouvidos qual uma sonata. Antes de deixar o local, desce para tomar água no espelho da piscina e se regozija com um banho apressado, bate asas e foge.
Do gabinete, sentada ao computador, acompanho através do vidro da janela à minha frente o exercício cotidiano do pássaro que vem e vai num ritmo contínuo colorir a paisagem quase estática. De cor amarela, com papo saliente, cabeça com plumagem dourada, demonstra no seu porte ousadia e liberdade para viver. Não tem amarras e voa para onde lhe convém. Sem medos, censuras e angústias.
Ser livre é o seu destino...
Por minutos passo a refletir sobre a vida dessas pequenas aves. Como seria interessante se tivéssemos o privilégio de voar concretamente como os pássaros! Porque voar através da imaginação é fácil. Viajar quilômetros, milhas e chegar a um destino desejado ou predeterminado se consegue com certa facilidade. Na realidade, só o pensamento percorre toda essa trajetória, enquanto nos perdemos em devaneios.
O homem tem essa capacidade de criar, imaginar e, em segundos, realizar os mais recônditos sonhos. Somos seres racionais com liberdade para fazer escolhas, construir o nosso destino. No entanto, essa liberdade para voar, na verdadeira acepção da palavra, horizontes nunca vistos antes, por puro prazer, instintivamente, somente elas – as aves.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

NAVE DO ESQUECIMENTO

NAVE DO ESQUECIMENTO

Evan Bessa

Renova-me a esperança de amar
Porque o coração anda abatido
Preso aos grilhões, sufocado
Na dor, a gemer o amor perdido.

Meus olhos são estrelas sem luz
Cegos perdidos na escuridão.
O corpo enfraquecido sem vigor,
Não avista ao longe a multidão.

Fico invisível frente ao mundo
Só me resta um viver tristonho
Viajar na nave do esquecimento,
E ficar grávida de outros sonhos.

sábado, 8 de maio de 2010

ESTRELA RELUZENTE

Evan Bessa
(À minha mãe)

Na via-láctea surgiu um ponto luminoso
Banhando a terra com uma luz visível
Da estrela que subiu, de brilho harmonioso,
Filigranas de prata caíam em gota indivisível.

Ela subiu ao etéreo, num dia de sábado
E nos deixou órfãos, sem rumo, tristes.
Encerrou um ciclo pleno de felicidade
Seu vôo rasante se fez depressa na subida.

Que momento doloroso foi a partida!
Um corpo frágil dormia sereno, em paz.
E nós, seus filhos dilacerados pela dor,
Sofremos ao vê-la alçar o vôo definitivo.

Sua ausência tornou-se presença viva
Num instante volátil do pensamento,
A separação nos tornou mais próximos
Da mãe, do Anjo protetor, da Diva...

Saudade... Saudade... é o nome do barco
Que carrega o sentimento e a dor atroz,
Dos seus filhos, nesse mar de tormenta
A percorrerem milhas, em lamento.
Inversão de Valores: Amor X Consumismo

Evan Bessa


Escrever algo original sobre o Dia das Mães, sem cair nos mesmos clichês, ou chegar às vias da pieguice, parece um trabalho difícil, isso porque, ano a ano, se retoma o tema, e, sem se dar conta, comete-se os mesmos erros, ou seja, repete-se o velho.

Qual a singularidade que esta data impõe à sociedade? Nenhuma. Ao contrário, motiva e revitaliza o consumismo exacerbado que, nessa época, é visto como prova de amor e de carinho da família pela matriarca. O comércio e a indústria se mobilizam para oferecer mirabolantes promoções a fim de agradar e satisfazer os mais exigentes gostos. Quanto mais caro o presente, melhor, pois os códigos que sinalizam a sociedade de consumo aferem a escala de medição de acordo com os ditames mercantilistas.

Onde se encontra o significado e todo o simbolismo que a data representa? Qual a reflexão que se faz do valor e da verdadeira expressão da pessoa que se homenageia? Quais os valores que pesam na balança das famílias no mundo moderno? São questões que são levantadas e para as quais não se encontram respostas, pois nada disso tem realmente relevância diante dos apelos do cotidiano.

A função social que uma mãe desempenha na família é de suma importância. O seu papel como mulher, elo entre marido e filhos que se constrói e se desconstrói, diariamente, pela sua capacidade de amar e de administrar a casa, os conflitos que surgem e, ao mesmo tempo, sua habilidade para compor e recompor os afetos as emoções desgastadas no círculo familiar, não é tarefa fácil.

Essa mulher multifacetada tem consciência de que um dia só em sua homenagem não representa a realidade pontual e concreta que deve ser atribuída às suas funções, como mãe e mulher, as quais envolvem toda uma complexidade também difícil de se entender pela sua verdadeira dimensão diante do mundo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Revisitando o Passado

Evan Bessa

Não faz tanto tempo assim, mas algo me diz que estou enganada. O tempo passou há muito e parece que não atinei para o fato. A vida correu numa velocidade incrível e a dinâmica do cotidiano nos deixou na roda viva. Assim, não se percebeu o grande número de acontecimentos que nos assaltou a toda hora. A impressão, quando criança, é que o tempo não passa rápido. Queremos a todo custo aumentar a idade para nos tornarmos jovens e adultos o mais rápido possível. Ficamos ansiosos e, muitas vezes, se perde o sono pensando nas mudanças que poderiam ocorrer, caso tivéssemos plenos poderes sobre ele. No entanto, somos reféns desse senhor que rege o calendário. Vivemos, quase sempre, em função dele, alinhando fatos, eventos, regulando o relógio a nosso favor, pois, caso contrário, perdemos completamente o controle da situação.

Lembranças da infância revisitam nossa memória e parece que não ficaram tão longe. As brincadeiras infantis, as férias na casa dos avôs, os amigos que deixamos para trás, a escola e os professores que passaram em nossa vida e até a cidade na qual nascemos, provinciana e sem muito atrativos, chega clara, límpida feito cristal quebrado, mas que ainda conservamos a poeira do que nos restou.

A adolescência volta à cabeça com toda aquela turbulência de dias vividos sob a égide da insegurança, do medo, das angústias. Período de tensões, mas também de sonhos, amores platônicos e sucessivos arroubos juvenis. As primeiras experiências que não deram certo trazem sentimentos confusos, desilusão, medo de recomeçar e/ou partir para outras. Não se tem maturidade para tomada de decisões mais sérias e, diante do adulto, temos um pouco de desconfiança. Nessa fase achamos que ninguém nos compreende, nos dá valor ou escuta de bom grado nossas dúvidas e incertezas. Esta travessia não é fácil! Deixa marcas profundas que demoramos superar, principalmente quando se trata de coisas íntimas, do coração e da alma. É o alvorecer de uma existência que se apresenta plena de enigmas.

Na idade adulta tudo vai se acalmando lentamente. Conseguimos parar para pensar, refletir sobre algumas idéias e deixar amadurecê-las, a fim de tomar posicionamentos e decisões. Isso varia de pessoa para pessoa, porque vão pesar aqui as experiências exitosas ou não, e o fato de ter apreendido a administrar e superar os desvios e meandros que a vida jogou durante o plantio da nossa existência. Dos 25 aos 50 anos vivemos plenamente com os pés fincados no chão, levando queda, se levantando e partindo para novas conquistas no campo pessoal e profissional. Realizamos muitas coisas, estamos plantando, colhendo e pavimentando a quadra seguinte e as décadas que vão chegando. Sentimentos parecem mais maduros, as angústias e incertezas continuam, porém nos sentimos capazes de gerenciar a maior parte delas. Vamos adquirindo “pari passu” confiança em nós mesmos e assumimos responsabilidades cada vez mais complexas.

Quando atingimos a terceira idade, olhamos para trás e percebemos o que conseguimos e isso nos remete a refletir sobre o outono da vida. O que estamos colhendo no jardim que semeamos e regamos nos verdes anos? Soubemos pavimentar essa estrada para uma caminhada mais longa e sem perigos? O que nos espera? Não podemos dizer o que nos aguarda, porque não se sabe até onde podemos chegar, se existe um futuro... Todavia, se as fases anteriores foram vividas prazerosamente, superando desafios e procurando a felicidade dentro de nós mesmos, então teremos capacidade de envelhecer com dignidade e entender que a vida é cíclica e o círculo fecha quando partimos definitivamente para um plano diferente.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

MILAGRE DO AMOR

Evan Bessa


Estrelas caídas aos pés da amada
Cintilam como pluma ao vento
E do céu a envolvem como fada
A mulher, no altar do sentimento.

A graça desce do céu, no momento
Exato, para resgatar esperanças
Que não estava há muito tempo,
No bailado suave das andanças.

E aqui, diante do chão estrelado
Vejo a amada a olhar extaseada
O milagre do amor revelado
Depois da tenebrosa caminhada.
A BIENAL COM O OLHAR VOLTADO ÀS NOVAS GERAÇÕES

Evan Bessa


Acompanho a Bienal Internacional do Livro desde o início de sua instalação em nossa capital. Tenho observado que a cada evento está havendo maior receptividade por parte do público. Adultos, jovens, adolescentes, crianças lotam os pavilhões do Centro de Convenções atentos, curiosos e sempre querendo se informar e participar da programação oferecida.

Este ano o tema é bem sugestivo: “O livro e a leitura dos sentimentos do mundo”. Uma homenagem está sendo feita à escritora Rachel de Queiroz, na passagem de seus 100 anos. A motivação torna-se ainda mais atraente, uma vez que além da autora ser cearense, sua obra é rica e múltipla, voltada sempre às raízes, ao seu povo e à sua gente.

O que reputo de uma importância fundamental nas bienais é que o fluxo de crianças e jovens das escolas vem aumentando significativamente. Há um incentivo por parte das autoridades e gestores escolares, no sentido de que cada aluno adquira livros a seu gosto para, de fato e de direito, tornarem-se verdadeiros cidadãos e leitores. Fomentar o hábito da leitura desde cedo é uma necessidade primordial; pais e professores devem propiciar essa aventura deliciosa aos filhos e alunos. E o que vemos a todo instante na Bienal são escolas com alunos de todos os níveis de ensino, visitando os stands e participando das atividades. Olhinhos buliçosos percorrem os vários painéis e balcões de livros coloridos espalhados ao longo da feira. A animação e a curiosidade dos pequenos leitores que estão despontando sugerem que as gerações futuras terão uma maior predisposição para fazer do livro o companheiro dileto - o amigo de todas as horas, o objeto de desejo.

O ato de ler com compreensão, sabendo interpretar um texto, é, ainda, uma das maiores dificuldades encontradas em sala de aula. A dificuldade na leitura compromete as demais habilidades e competências no ensino e na aprendizagem cotidiana.

Vejo com bastante entusiasmo e otimismo o caminhar desses novos leitores na busca da cidadania e do poder de informação. O livro como investimento para uma população, onde o acesso a esse material ainda se constitui objeto muito caro, não deve ser privilégio de alguns, mas estar disponível a todos. Poucas famílias podem proporcionar aos seus filhos uma pequena biblioteca em casa; a maioria dos alunos só conta com o acervo que existe nas escolas. Hoje, tenta-se modificar essa realidade.

Mesmo no mundo em que vivemos de grandes avanços e inovações tecnológicas, nada substituirá o prazer de ter um livro em mãos, viajar nas suas histórias, conhecer lugares, descobrir o desconhecido, enfim, fazer da leitura uma forma de lazer e, ao mesmo tempo, uma atividade prazerosa.

A IX Bienal Internacional do Livro no Ceará vem, mais uma vez, estimular leitores, ilustradores, escritores nas suas produções literárias, e o grande público em geral, a se tornarem fiéis e verdadeiros amantes da boa leitura.

quarta-feira, 31 de março de 2010

ONDAS DE ALGODÃO

Evan Bessa


Ondas buliçosas derramam-se na areia
brancas, com seus desenhos rendados,
como noiva estendida ao chão, sob o céu azul,
na magia da boda nupcial, com seus bailados.

Outras ondas vão e vem delicadas e serenas
abraçam a noiva que se esgueira na praia,
e recebe o aconchego, num ato de amor,
alimentando a ilusão das ondas que se espraiam.

Brancas ondas escorregam na areia
qual capucho de algodão ao sabor do vento
absorvem cada grão esmaecido de leve,
como a sorver o amor daquele momento.
VIAGEM

Evan Bessa



De olhos bem abertos me pego a observar, através da janela do carro que viajo, trilhas, veredas e caminhos os quais minha memória afetiva se recorda tão bem. Ao longo da estrada, vejo a vegetação esplendorosa cobrindo montes e vales como se um tapete de veludo tivesse sido estendido para que eu pudesse admirar ao retornar a terra natal. O céu estava coberto por nuvens escuras, anunciando que, logo, logo, a chuva cairia em abundância. Serras, serrotes e vales aguardavam adormecidos o banho da chuva que lavaria às suas entranhas, permitindo assim, que uma fragrância fluísse no ar, e exalasse o perfume próprio das matas. As sensações iam surgindo, pouco a pouco, com o cheiro da mata verde e o espelho de água límpida que ia aparecendo, lá embaixo das pontes que atravessava, durante todo o percurso. Despertava minha memória olfativa térmica e, porque não dizer, até mesmo, sabor da água corrente e fresca dos banhos de rio ou cachoeira, experimentados na infância.

Tentei fechar os olhos para que as sensações não fossem tão concretas, mas foi tudo em vão. Cada quilômetro percorrido o coração reclamava da saudade e saltava da mente lembranças em turbilhão, chegando a congestionar imagens e passagens significativas. O tempo, oh! O tempo! Este teima em prosseguir na sua corrida cartesiana sem deixar contornos ou reviravoltas repentinas. Intimamente, ele recua para reviver emoções, coçando a imaginação, como a persistir que o aqui e o agora, daqui a pouco serão passados. A brisa e um vento leve batem no vidro do carro, um frescor escorre na minha face e banha de gotas as lembranças da meninice vivida a correr pelos campos, atrás da passarada e dos animais que faziam fileiras para atravessar a porteira do curral. E aí, as gotas se transformam em chuva de fatos vividos. Recordo o leite mugido tomado na porteira do curral, entregue, carinhosamente, pelas as mãos do ordenhador. Ah! Como sinto agora o sabor e a quentura do líquido milagroso, no copo de alumínio, a roçar meus lábios. O pensamento voa, muito além, da velocidade que o veículo consegue desenvolver.

Tento racionalizar, colocar a razão à frente do objetivo que me faz estar ali, naquele momento, retornando àquela cidade. Algum minuto, paro e penso. Delineio uma agenda gravada na mente, para executar após a chegada ao meu destino, em poucas horas.

Escuto conversas dentro do carro que não me interessam... Em pouco mais de meia hora chegarei.
A estrada parece agora uma esteira rolante na qual trafegam o carro e meus pensamentos. Dou asas à imaginação, e aí vôo mais longe: a casa dos meus avós paternos. Vislumbro um passado remoto pontuado de alegrias prazerosas, impossíveis de serem esquecidas.

O carro pára... Eu absorta em pensamentos volto à realidade. Tenho pouco tempo para cumprir a tal agenda repassada anteriormente. Desço do veículo e passo a agir dentro do roteiro previsto. Não há mais tempo para devaneios, lembranças. O presente, o aqui e o agora me chamam à ação... A viagem termina e com ela as lembranças de um tempo que não volta mais.

Garimpo de Idéias

Garimpo de Idéias


Evan Bessa



Mesmo tendo dificuldade de colocar alguma coisa no papel estou aqui diante do computador, garimpando uma idéia interessante para discorrer. Fatos acontecem a todo instante, mas nem sempre me chamam atenção, razão pela qual está sendo difícil escrever um texto.

Agora, penso e reflito por um momento, no que mais se tem falado ultimamente: Violência.
Realmente, a mídia ressalta de maneira contundente as formas mais esdrúxulas como ela ocorre. Aparece de repente, em qualquer lugar, nas ruas, nos lares, nos locais de lazer, nas estradas, nas cidades, enfim onde haja pessoas, indivíduos.
O que estará acontecendo com a humanidade? Não se tem limites para se recorrer à violência. As estatísticas estão aí para comprovar. Números cada vez mais ascendentes registram o mapa dessa selvagaria. A sociedade fica perplexa diante das monstruosidades estampadas nos jornais e na televisão com tanta evidência.
Onde estão os responsáveis pelo gerenciamento da segurança dos cidadãos? Que políticas estão nas pautas dos governos para enfrentar problemas de tamanha monta? A quem se dirigir nos embates que geram e causam violência?
O que se observa, é que quase não há mais credibilidade nas corporações que deviam proteger os cidadãos, para evitar tantos absurdos. A situação está sendo banalizada, por força dos inúmeros casos ocorridos diariamente, em qualquer parte do país, e não se tem respostas concretas do poder público para banir essas aberrações.

Estudiosos das diversas áreas do conhecimento ainda não descobriram nada que possa justificar o avanço de tanta violência entre seres humanos. Experiências são realizadas em laboratórios especializados com alta tecnologia, mas nenhuma delas aponta sequer, uma hipótese vanguardista que possa vislumbrar uma luz no fim do túnel.

Gerações vão se sucedendo a cada século, e ao longo da história se tem testemunhado aberrações praticadas pelos homens.
Será que a violência do homem vem no próprio DNA? Se essa hipótese tiver alguma possibilidade de ser levantada, precisa-se, com urgência, encontrar um meio de isolar esse gene, molécula, ou outra coisa qualquer que o identifique, a fim de se mudar o quadro triste de violência que assola a sociedade, nos dias atuais.
FÚRIA DO MAR

Evan Bessa

O vento sopra a vela da jangada
Que em alto mar, tremula levemente
E a alma se esconde no peito agitada
Como se estivesse a ouvir a voz da amada.

O mar arrasta as ondas e os ventos
Cheio de desejos, abraça-os e geme
A jangada avança na borrasca e treme
Pedindo socorro a cada momento.

As nuvens se movem devagar
Parecem não atentar para o vento,
Que provoca a fúria das águas.

E a jangada frágil, leve e tonta
Se entrega ao destino que a espera
Tomba no mar profundo e desaparece...

sexta-feira, 12 de março de 2010

CORAÇÃO OBSCURO

Evan Bessa

A noite, o pavor me assalta
Fantasmas espremem minha dor
E mistérios reaparecem em flashs.
No escuro, trituro o dissabor.

Uma luz adentra o quarto da minh’alma
Mas não chega ao coração obscuro
Há em mim uma escuridão profunda
Que permeia meus tecidos duros.

Meus sonhos são mosaicos partidos
Trincados, em cacos, resistentes
Em minha volta só há melancolia
O sofrimento me deixa impertinente.

Ao raiar o dia estou angustiada
No íntimo não há luz, só sombra.
O sol aquece o corpo doído, inerte
E a dor insiste, resiste e assombra.
O ACASO


Evan Bessa


Tenho observado que a vida, muitas vezes, nos leva rumo ao acaso. Foi exatamente o que aconteceu num desses dias da semana. Estava numa fila para efetuar pagamento, quando depois de décadas você me aparece, de longe, feito uma alma penada. Percebo que desvia o olhar marcado pelo peso dos anos. Seu rosto revelava o sinal do tempo demonstrando claramente as marcas, os sabores e dissabores da vida levada até o momento. O olhar sem brilho se encontrava embaçado por trás de rugas renitentes.A tez de um bronzeado diferente, meio tostada, dando a ligeira impressão que o sol esteve impiedoso e curtiu sua pele de uma cor estranha, irreconhecível. A postura menos altiva, um pouco caída para frente, creio que a coluna já não está tão ereta como antes.Veio na minha cabeça, de imediato, a sua figura no passado. Quanta diferença!!! Quase não o reconheci. Parece até que foi virado pelo avesso, como diz a letra de Caetano Veloso: “ porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”.

Com essa analogia fico perguntando se minha percepção é real ou ilusória. O momento parece ter se eternizado, pois em poucos minutos, meu olhar fez uma leitura de informações preciosas e estranhas ao mesmo tempo. Fotografei com a luz do pensamento e da memória afetiva o seu estado d’alma e pude perceber que a paz e o amor pareciam matérias escassas no mercado da sua existência. Tälvez mercadorias mais preciosas estivessem ofuscando aquelas, no momento atual. Seus valores, possivelmente tenham mudado, a visão do mundo de hoje, com certeza, difere da de outrora e, por estas e outras, houve uma modificação física e interior tão impactante. O ser humano, às vezes, se deixa transparente aos olhos dos outros, e fica até difícil esconder o óbvio.

Por algumas horas vi o mundo parar diante de mim. Senti alívio quando o meu corpo inteiro se mexeu e o sangue pulsou inadvertidamente. Estava viva... Aquilo não tinha sido um sonho ou um pesadelo.

Mais uma vez, o acaso bate de frente comigo. Descobre os caminhos por onde ando, me espreita e segue na minha direção. Obedece um traçado irregular, em curvas fechadas, ora em travessias largas ou estreitas, mas não deixa de me perseguir. E, acaba me achando...
TURBILHÃO DE EMOÇÕES


Evan Bessa




A luz cristalina da lua atravessou a porta de vidro e iluminou o assoalho da casa. De repente, a sala ficou diferente! As nuances e o brilho da luz se espalharam e sombrearam o chão escuro e os outros espaços do ambiente. Sentada na cadeira de balanço estava Marina, segurando um livro que lia com imensa voracidade. Uma história interessante de um reino, aonde rainhas, príncipes e princesas viviam num mundo irreal - de luxo e riquezas. Enquanto, o restante do povo padecia com a realidade cotidiana, comum a quase todos os viventes.

A dualidade das realidades sociais, econômicas e comportamentais dos personagens, bem como a trama revirava a cabeça da leitora que ora, se deliciava com a narração ora, se entediava e se revoltava com as passagens descritas.As contradições saltavam aos olhos. Mas, diante do espetaculo da noite, do clarão reinante no local onde se encontrava desviou a atenção da leitura. Fechou o exemplar e colocou no colo.

Marina voltou ao tempo de jovem cheia de sonhos e esperanças. Repassou um a um seus desejos, suas utopias e diante da noite prateada que invadia sua casa, as lembranças mais recônditas dos tempos idos começaram a explodir como fogos de artifícios. A beleza dos vinte anos aparecia no espelho da memória. Um rosto bonito, um sorriso largo e um corpo de fazer inveja, dada as formas e contornos bem delineados sobressaiam nas faces do espelho como a querer mostrar que o tempo havia passado e pouco, muito pouco estava ali sentada na cadeira. Momentos de intensa introspecção toma conta de si e, sem perceber começa a passar um filme na sua cabeça. O enredo tinha atores principais, secundários, coadjuvantes. Em determinado momento, o filme aparecia em preto e branco, mas em outros instantes o colorido das cenas confundia a protagonista, de tão arrebatadoras e significativas. Um verdadeiro rebuliço no pensamento tomava proporções indesejáveis, posto que, agora, reinava um tremenda confusão de idéias.A serenidade que a dominava horas atrás transformara em turbilhão de emoções e sentimentos inesperados. A cabeça rodava diante da situação que se apresentava.

A luz da lua continuava adentrando pelas venezianas, portas e janelas tomando toda a casa e, ironicamente, invadindo o corpo e os sentidos daquela senhora com a mesma intensidade da lua prateando a noite, ao acaso, resgatando também, um passado distante.
ENCONTROS E REENCONTROS

Evan Bessa


Fazia algum tempo que não nos reuníamos... Ano novo, férias, carnaval e tantos outros acontecimentos impediram o nosso Encontro. Passado os motivos mencionados, retomamos a prática de, mensalmente, almoçarmos juntas. Podermos, entre abraços calorosos, reencontrar amigas que se querem bem e se respeitam mutuamente e, entre conversas, trocar ideias e afetos em torno de uma mesa, deixando a alegria fluir e a espontaneidade brotar do coração de cada uma. Rimos de bobagens e de nós mesmas. Fazemos uma espécie de “terapia em grupo.”

Sim, falamos da amizade entre colegas de trabalho, construída ao longo de trinta anos de esforço, lutas e ideais partilhados. Cumpríamos o nosso ofício de “pensar e operacionalizar” políticas públicas destinadas à educação. Com todo vigor da juventude, e, ao longo da maturidade, plantamos as sementes no jardim. Algumas germinaram, transformando-se em flores coloridas e viçosas; outras, não chegaram a crescer de forma adequada e, ainda, algumas morreram sem que viessem a brotar. Regamos, adubamos o solo com paciência e competência frente aos conhecimentos adquiridos e compartilhados, mas nem sempre obtivemos os resultados que esperávamos e sonhávamos. Não foi fácil a nossa jornada, mas nunca deixamos de perseguir a qualidade do nosso plantio, fizesse inverno ou verão, mesmo com sol causticante, não desistíamos de fazer o melhor que podíamos, claro, dentro das limitações humanas, bem como as da própria instituição da qual fazíamos parte. Toda essa caminhada do dia-a-dia foi criando laços de amizade sólidos e de fraternidade que nos irmanam até os dias de hoje. Estamos todas aposentadas. Realizamos sonhos, construímos castelos de saber, pontes de conhecimento e pavimentamos as estradas das nossas vidas, no entanto, não deixamos que a aposentadoria nos afastasse, razão pela qual mantemos os encontros para estreitarmos afetos, trocarmos experiências e vivências cotidianas, de maneira informal, prazerosa e carinhosa. Passamos momentos de descontração, entretenimento dos mais agradáveis, durante essa reunião social.

Fomos mulheres guerreiras e continuamos nessa etapa da vida, enfrentando desafios, renovando saberes, criando alternativas para resolução de problemas, enfim, interessadas pela arte do bem viver, firmes e fortes diante de nossa existência. Sabemos que para viver precisamos de coragem, a fim de ir desvendando os mistérios do desconhecido que vão surgindo. Precisamos enfrentar os sabores e dissabores da vida.

É essa legião de mulheres que juntas caminham para a velhice e não se perturbam, muito pelo contrário, buscam chegar a esse estágio da existência com a mesma desenvoltura com que atravessaram a infância, a adolescência e a maturidade.

Nossos verdes anos se foram, mas conservamos o verde da esperança na alma e nos sonhos de mulheres maduras e conscientes, que nunca deixaram de acreditar na vida.
EXISTÊNCIA FINITA

Evan Bessa

Passam o tempo e a vida
Passam o vento e a ventania
Passam o bem e o mal
Passam a sorte e o dia.

Passam os minutos e segundos
Passam a dor e a saudade
Passam a alegria e o amor
Passam a tristeza e a maldade.

Passam a poesia e a rima
Passam a emoção e a beleza
Passam a névoa e a nuvem
Passam a lágrima e a dureza.

Passa tudo, tudo passa
Passam a vida e o norte
Passa a existência finita
Passa, enfim, a própria morte.