sábado, 3 de maio de 2014

O ÓCIO E O SILÊNCIO DA ALMA Havia no ar uma sensação estranha no ambiente em que me encontrava. Apesar de estar com um livro do poeta Manuel Bandeira nas mãos, algo me incomodava. Olhei para o lado, notei que a janela do quarto se encontrava fechada e nenhuma ventilação natural chegava até o local. O ventilador funcionava no ponto máximo, mas o ar que se espargia era quente, como um vapor superaquecido. Por alguns instantes, parei de ler e, de imediato, puxei a cortina a fim de abrir a janela que dava para o jardim. De repente, sinto uma rajada de vento a invadir o meu rosto, causando-me uma sensação diferente. Olhei para frente e pude assistir um balé das folhas indo de um lado para outro, como a agradecer a gentileza. Voltei ao texto e pude me deliciar com a poesia do autor. Por vezes, fico tão absorvida com a leitura que me esqueço de observar o que me rodeia. Nesses últimos meses de calor intenso, não se consegue permanecer por muito tempo sem ar condicionado. No entanto, não sou adepta em utilizar tal aparelho, quando se pode ter um ar mais puro entrando pelos diversos cômodos da casa. O marido pensa e age exatamente ao contrário. Ainda bem, que não se discute por conta dos desejos díspares entre o casal. Procura-se encontrar solução adequada, com base no respeito ao outro. Por esta razão, fico em muitas ocasiões abrindo portas e janelas para sentir a atmosfera invadir-me, bem como o perfume da relva verde, das flores que enfeitam e dão um colorido especial ao ambiente, que para mim, parece mais saudável. O frio demasiado incomoda-me bastante. Gosto mais do verão, do sol ardente, de uma brisa a correr por entre vales e montanhas, ensaiando a música própria do vento que assalta as madrugadas. A brisa que vem do mar nas noites estreladas, onde a lua, lá no céu, passeia, vagarosamente, por entre nuvens, como a se esconder dos mais curiosos. Linda, brilhante, alva como a neve a enfeitiçar olhares, inebriando a todos. Distanciei-me do meu lazer predileto, divagando sobre a temperatura que vem e me sufoca nos dias e nas noites mais quentes. Retorno ao texto e me encanto com os versos de Bandeira: “Andorinha lá fora dizendo: -” Passei o dia a toa!”/ Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa... Tal qual a andorinha dou os meus vôos, mesmo sem asas para ir bem longe. O pensamento me conduz ora para lugares e situações concretas que me fazem refletir, ora fico assim como o pássaro à toa, à toa. Segundo os filósofos, o ócio também faz parte da vida do homem, de vez em quando, o exercício permite que se entre no silêncio da alma para se extrair lições e ensinamentos, enquanto se vivencia momentos de inquietude. O livro “ESTRELA DA VIDA INTEIRA” que estou relendo foi o primeiro presente que ganhei do meu marido, nos idos de 1977. Guardo como relíquia para, de vez em quando, revisitar e ficar à toa, à toa...

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