sexta-feira, 3 de abril de 2009

Simbologia da Dramaturgia

Simbologia da Dramaturgia

Evan Bessa


Sábado, levada por uma amiga, fui ao teatro. Há quanto tempo não assistia uma peça interessante! Na verdade, a dramaturgia sempre nos remete a uma reflexão mais acurada, principalmente quando os atores são talentosos e transformam os atos encenados em realidade quase palpável.
“A Graça da Vida” chamou-me atenção, desde o início, pela identificação imediata com a temática.

Faz algum tempo que, para mim, vida-morte passou a ser o binômio que se entranhou na mente e na alma, como uma substância aderente e pegajosa, tomando todo o meu ser.
A peça aborda uma doença que aparece sutilmente, passo a passo, e vai tomando proporções inimagináveis. Recorre-se as possibilidades que a medicina pode oferecer somadas, a doses de cuidados, afeto, carinho, e tudo mais o que for possível. Nada abate mais o ser humano do que ver um ente querido acometido pela doença de Alzheimer.

Durante o desenrolar da peça, a cada cena, via-me diante de um quadro pintado com cores fortes que esteve em destaque sempre à minha frente para que eu mirasse e encontrasse algo de belo que viesse amenizar a dor e o sofrimento passados, frente aos infortúnios da vida.

Essa história, eu vivi!!! E pude conhecer de perto todas as nuances, os matizes, os acessos e retrocessos...

Reconhecer o outro na sua fragilidade e vulnerabilidade, que até então, nunca havia sequer um dia pensado em alguma coisa parecida, é muito doloroso. A doença, na peça, apresenta-se de forma metafórica para que se possa compreender a travessia a qual todos terão que fazer, até chegar ao destino final - a morte.

A seqüência de perdas que o homem vai acumulando no processo de envelhecimento se faz notar a partir dos pequenos lapsos de memória, a carência de afeto, a insegurança frente a situações rotineiras que passam a ser, em determinados momentos, irreconhecíveis. Para quem acompanha de perto, às vezes, não sabe dimensionar quem sofre mais: o doente na sua caminhada vagarosa para o momento derradeiro, ou, se são os familiares que acompanham o drama, dado o envolvimento e a dificuldade de se distanciar para perceber com um olhar mais analítico.

Aí, pode-se dizer que o “drama do teatro” se funde, inexoravelmente, com o drama humano, vivencial, concreto, doloroso. Ou melhor dizendo; se confunde com a verdadeira realidade.

A peça tem um lado que procura criar um clima de diálogo entre mãe e filha na busca da superação permanente, como a se prepararem, a aceitar o inaceitável e remediar o que se torna irremediável. Então se questiona: “ a arte imita a vida ou é a vida que imita a arte?”

Que apertado meu coração ficou. Ora contido, sufocado, ora aliviado por aquela encenação ser apenas um momento de lazer, mas acima de tudo, de reflexão sobre a vida que se exaure com o tempo e esse tempo é o espaço inevitável entre vida e morte.

Um comentário:

  1. Oi Evan, bem-vinda à blogosfera!

    Sua voz entrecruza os milhões de discursos feito um feixe de luz.

    Seu blog é lindo em forma e conteúdo.

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