MÚSICA DE UMA GERAÇÃO
Agora mesmo me surpreendo cantarolando: “E por falar em saudade/ Onde anda você/ Onde andam seus olhos/ Que a gente não vê/ Onde anda esse corpo/ Que me deixa louca/ De tanto prazer” (Vinícius de Moraes/Hermano Silva e Toquinho)... Por que será que esta canção me veio à cabeça involuntariamente? Lembro-me, agora, Maria Creusa, cantora baiana, cantando com sua voz suave e melodiosa, nas décadas de 60 ou 70. Época em que no país surgiram as mais belas músicas de compositores como Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil e de alguns outros.
A produção musical dos autores citados marcou um tempo importante de mudanças sociais e de comportamento no Brasil. As letras tinham conteúdo, beleza, complexidade e profundidade. As melodias não ficavam atrás. Tinham significados que enlevavam a alma e os corações enamorados. A safra de cantores e compositores foi bastante generosa. Eles ainda estão no páreo, mas com uma produção escassa que não atende às necessidades de mercado.
Não me considero uma pessoa saudosista, embora aprecie, de vez em quando, retomar o passado, mas com objetivo de alinhar melhor o futuro. Também é bom salientar que vivo mais o presente com todas as suas nuances, porque o aqui e o agora me interessam.
Que tipo de música a gente escuta hoje? Uma música cujo objetivo é vender milhares e milhares de CDs e DVDs. Ouvimos o axé, a música religiosa, sertaneja, rap, forró, dentre outros ritmos sem muita expressão. As letras são, na maioria das vezes, pobres, sem essência e substância. O que se pretende é que as pessoas joguem as mãos para cima e mexam o corpo com frenesi.
Minha geração teve mais sorte nesse particular. O romantismo era cantado em prosa e verso, com um colorido multifacetado que dava margem para sonhos e fantasias ao se embalar nessas músicas. Não se tratava de alienação porque as letras e palavras transmitiam sentimentos puros e idéias relevantes.
E agora relembro: “Naquele bairro afastado/ Onde eu criança vivia/ A remoer melodias/ Numa ternura sem par/ Passava todas as tardes/ Um realejo risonho/ Passava como num sonho/ Um realejo a tocar.../ (Custódio Mesquita e Sadi Cabral).
“O meu amor tem um jeito manso que é só seu/ E que me deixa louca quando me beija a boca/ A minha pele toda fica arrepiada/ E me beija com calma e fundo/ Até minh'alma se sentir beijada” (Chico Buarque)
Você percebe o nível de criatividade, romantismo e elegância da canção acima.
Vejamos uma amostra do axé baiano: “Dói um tapinha não dói” (Tapinha); ou essa outra:
“Beijo na boca é coisa do passado/ A moda agora é/ Enamorar pelado “ (Beijo na Boca)
Que diferença! Parece que agora a ternura, o amor, o sentimento inexistem e a grosseria impera. Será se estou equivocada? Tire suas próprias conclusões...
terça-feira, 28 de junho de 2011
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