NOITE SILENCIOSA
Evan Bessa
Sozinha neste gabinete penso em escrever um pouco. O silêncio da noite convida-me a reflexão...
Há tantas coisas que chegam à cabeça! Por um momento, páro e deixo o pensamento voar como pássaros alçando vôos aos píncaros das montanhas. As imagens ainda embaçadas evoluem em ritmo lento e dançam a vagar pela memória afetiva.
Sinto o pulsar do coração acelerado à medida que as idéias fluem com mais clareza. Seria esta a linguagem objetiva do coração? Fico escutando o batimento cardíaco na tentativa de entender melhor a fala que ele quer me passar. Que coisa esquisita essa minha atitude?
O certo, é que estou aqui frente a lembranças, perdida com fatos que não têm mais o mesmo significado de outrora. Vivo em outro contexto, outra realidade!
Ah o tempo! O tempo que escorre diante de mim, deixou marcas acentuadas no meu ser: na pele, sulcos profundos; no coração, a taquicardia sempre que vem à tona, com as recordações do passado; no cérebro, tal qual o meu computador, por vezes, se nega a deletar passagens adormecidas anos a fio, guardadas a sete chaves na memória. Por que tão bem escondidas no consciente ou inconsciente teimam a aparecer de uma hora para outra?
O som da tv ligada me tira a concentração e rapidamente fixo meus olhos na telinha. Vejo imagens deslumbrantes! Uma praia com areias finas e um mar de ondas agitadas com águas em volúpia. Parecem querer partilhar comigo a ânsia que toma o corpo inteiro e me deixa em convulsões.
Seguro-me por alguns instantes procurando ser mais racional e objetiva. Por que nós mulheres somos tão vulneráveis emocionalmente?
Contudo os pensamentos preenchem todos os espaços da mente e retorno a um estado de embevecimento. Passo a olhar as estrelas que cobrem o céu azul, pelo vidro da janela que dá para o jardim, imaginando, agora, aquele mar com ondas branquinhas, cheio de espumas a banhar-me em suas águas frias, resgatando-me dessa agonia aterrorizante.
Num impulso, ergo-me da cadeira e deixo a luz atravessar o vidro a minha frente, iluminar a razão, reencontrar o meu ponto de equilíbrio para que o tal delírio se transforme em atitudes firmes e mais condizentes, com o momento presente.
Após segundos, já me sinto conectada com a realidade do hoje. Tenho o destino nas minhas mãos, senhora de mim mesma, responsável pelos meus atos, no entanto, em permanentes estágios de contradição entre o presente e futuro, com recaídas num passado longínquo que põe o pé no meu caminho, como qualquer ser humano.
domingo, 29 de novembro de 2009
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