sexta-feira, 21 de setembro de 2012
CRONISTA DE MINHA ALDEIA
Evan Bessa - Pedagoga
Ontem, ao abrir o jornal, me deparei com uma notícia que jamais queria ler: Morre Airton Monte. Fiquei perplexa diante do fato. Não queria acreditar... Embora saibamos que a morte é o destino mais certo que temos, nunca pensamos na sua chegada, principalmente quando se trata de pessoas que estimamos e admiramos pela figura humana, inteligência e versatilidade como literato. Segundo Léo Buscaglia, “A morte nos ensina a transitoriedade de todas as coisas”. Este pensamento nos leva a uma reflexão mais profunda.
Na minha visão, Airton Monte era o melhor cronista vivo depois de Milton Dias. Suas crônicas diárias eram deliciosas, cheias de emoção e lirismo. Podíamos admitir que algumas eram verdadeiras poesias em prosa. Seu estilo tinha um quê de simplicidade e beleza que fazia seus leitores ficarem embevecidos. Os que o acompanhavam no dia-a-dia, ao abrir o jornal “O Povo”, procuravam imediatamente a crônica de Airton Monte. Era uma forma de entrar em contato com um texto leve, bem escrito, com humor e, às vezes, reflexivo. Viajava nas suas produções diárias. O fato comum se transformava em pouco tempo numa bela página, rica de significados e significantes, tal era a sensibilidade do escritor.
Numa ocasião, enviei-lhe um e-mail falando que havia me emocionado com a sua escritura e admirava seu estilo como escritor. Ele me respondeu prontamente com uma delicadeza ímpar. Depois, em outra oportunidade, falamos das nossas famílias Monte x Feitosa em que nossos ancestrais eram verdadeiros inimigos. Conta a lenda que havia muitas desavenças entre eles. No entanto, as gerações que se sucederam eram de “paz e amor” e, hoje, não existem mais restrições e inimizades. Que bom!
Médico psiquiatra, escritor, poeta, boêmio, tinha uma vida de uma simplicidade quase franciscana. Nos seus textos falava de sua vida pessoal, do amor à família e das dificuldades e agruras da vida. Tinha verdadeira adoração pelo pai com quem mantinha o aconchego nos almoços de domingo na Rua Dom Jerônimo. Eram muito amigos e, após o almoço, as conversas varavam o resto da tarde e entravam à noite. A reciprocidade no afeto, no carinho, na amizade os mantinha próximos na mesma cumplicidade de pai e filho, que se amam e se respeitam. As suas crônicas refletiam claramente o amor que construíram ao longo de suas existências.
Por ironia do destino, no dia de sua morte, acontecia na Academia Cearense de Letras a votação para ocupar a vaga do acadêmico José Maria de Barros Pinho. O cronista era um dos candidatos à vaga deixada pelo poeta. Realmente, perdemos um grande representante na Academia, visto que, seu assento naquela casa centenária só iria dignificar e enriquecer o egrégio.
O cronista de minha aldeia partiu. Ficou uma lacuna imensa na intelectualidade cearense. O homem, o poeta, o escritor agora dorme o sono dos justos. Não pode mais sonhar... Ficará eternamente na memória afetiva dos seus leitores que partilhavam, diariamente, o pão que alimentava o espírito com a leitura de seus escritos. E, agora, só resta ao leitor a saudade dolorida de quem partiu prematuramente, quando ainda tinha tanto a dizer.
Airton Monte, que Deus e os anjos o recebam com a mesma alegria e leveza que encarava a vida.
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