segunda-feira, 3 de junho de 2013

SINGULARIDADE DE AFETO Hoje, 22 de abril, à tardinha, fui à missa na Igreja de N. Sra. da Paz. Havia um motivo relevante para eu deixar os afazeres diários e ir até à igreja para rezar. Fazia ano da morte de meu pai. O tempo passou rápido demais e quase não acredito que já se foram vinte e quatro anos que ele nos deixou definitivamente. Desde cedo ele ocupou meus pensamentos e a memória processava fatos e acontecimentos dos tempos idos. Não havia forma de esquecer momentos, passagens de uma vida que vivenciamos em família. Sua imagem reacendia na minha cabeça tão nítida como flashes desgovernados explodindo em velocidade e clareando o ambiente. De repente relembro minha infância. Vejo-o atento a tudo que o rodeava. Preocupava-se com os filhos e nos acompanhava de perto. Tinha firmeza nas atitudes e nas palavras. A obediência e a disciplina eram ferramentas imprescindíveis na educação que nos dava. Muitas vezes, receio voltar a andar na roda gigante do meu passado. Apesar de boas lembranças a cada volta subo as alturas e desço derrapando na saudade. Essa companheira que não sai de perto de mim e coça minhas entranhas, mexe com minhas emoções e vigia-me através do tempo para que ela permaneça sempre presente no meu viver. Os anos vão se esvaindo, desfazendo-se em pedaços rotos, mas não impede de que fios se fixem em algum lugar do passado e costurem novamente estórias, resgatem movimentos e sensações de outrora. Na verdade como disse Kalil Gibran: “Cada um passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.” Em se tratando de um ente querido ligado por laços sanguíneos, isso se torna ainda maior em termos de singularidade. Concordo plenamente com o pensamento do autor citado. Um pai ou uma mãe são insubstituíveis. Ninguém pode ocupar esse espaço, essa lacuna em termos de amor, afeto, ternura na vida de um filho. Acho que é por essas e outras que fico presa às lembranças no dia que se registra sua morte física, porque, na realidade, ele está mais vivo do que nunca dentro de mim. Creio que só perdendo a lucidez possa afastar de mim uma recordação doce e amarga ao mesmo tempo, deliciosa e cruel, morta e viva, que se constituem verdadeira contradição na minha essência como ser pensante.