terça-feira, 28 de junho de 2011

MÚSICA DE UMA GERAÇÃO

Agora mesmo me surpreendo cantarolando: “E por falar em saudade/ Onde anda você/ Onde andam seus olhos/ Que a gente não vê/ Onde anda esse corpo/ Que me deixa louca/ De tanto prazer” (Vinícius de Moraes/Hermano Silva e Toquinho)... Por que será que esta canção me veio à cabeça involuntariamente? Lembro-me, agora, Maria Creusa, cantora baiana, cantando com sua voz suave e melodiosa, nas décadas de 60 ou 70. Época em que no país surgiram as mais belas músicas de compositores como Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil e de alguns outros.
A produção musical dos autores citados marcou um tempo importante de mudanças sociais e de comportamento no Brasil. As letras tinham conteúdo, beleza, complexidade e profundidade. As melodias não ficavam atrás. Tinham significados que enlevavam a alma e os corações enamorados. A safra de cantores e compositores foi bastante generosa. Eles ainda estão no páreo, mas com uma produção escassa que não atende às necessidades de mercado.
Não me considero uma pessoa saudosista, embora aprecie, de vez em quando, retomar o passado, mas com objetivo de alinhar melhor o futuro. Também é bom salientar que vivo mais o presente com todas as suas nuances, porque o aqui e o agora me interessam.
Que tipo de música a gente escuta hoje? Uma música cujo objetivo é vender milhares e milhares de CDs e DVDs. Ouvimos o axé, a música religiosa, sertaneja, rap, forró, dentre outros ritmos sem muita expressão. As letras são, na maioria das vezes, pobres, sem essência e substância. O que se pretende é que as pessoas joguem as mãos para cima e mexam o corpo com frenesi.
Minha geração teve mais sorte nesse particular. O romantismo era cantado em prosa e verso, com um colorido multifacetado que dava margem para sonhos e fantasias ao se embalar nessas músicas. Não se tratava de alienação porque as letras e palavras transmitiam sentimentos puros e idéias relevantes.
E agora relembro: “Naquele bairro afastado/ Onde eu criança vivia/ A remoer melodias/ Numa ternura sem par/ Passava todas as tardes/ Um realejo risonho/ Passava como num sonho/ Um realejo a tocar.../ (Custódio Mesquita e Sadi Cabral).
“O meu amor tem um jeito manso que é só seu/ E que me deixa louca quando me beija a boca/ A minha pele toda fica arrepiada/ E me beija com calma e fundo/ Até minh'alma se sentir beijada” (Chico Buarque)
Você percebe o nível de criatividade, romantismo e elegância da canção acima.
Vejamos uma amostra do axé baiano: “Dói um tapinha não dói” (Tapinha); ou essa outra:
“Beijo na boca é coisa do passado/ A moda agora é/ Enamorar pelado “ (Beijo na Boca)
Que diferença! Parece que agora a ternura, o amor, o sentimento inexistem e a grosseria impera. Será se estou equivocada? Tire suas próprias conclusões...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

RECORDAÇÕES DE TEMPOS VIVIDOS

Estamos caminhando para o final do mês de junho. A mídia se encarrega de mostrar a alegria reinante nas festas juninas espalhadas por todo o nordeste. Não consigo sintonizar com toda essa animação. Parece que estou flutuando no ar... Fico imaginando em outras épocas, em que estas festas me enchiam de prazer. Nunca fui de dançar quadrilha, mas adorava assisti-la e me divertia muito.
Hoje, já não sinto vontade de participar de tal evento. O tempo passou e eu mudei. Talvez porque não tenha mais junto de mim, pessoa da minha família que, como eu, adorava as comemorações e, agora, se encontra em outro plano.
Lembro que minha mãe vibrava com a festa dos seus Santos prediletos: Antônio, João e Pedro. Para cada um tinha sua devoção especial. Era também o mês de seu aniversário, exatamente no dia 29 de junho – Dia de São Pedro.
Como ela gostava de receber os filhos, netos, genros e nora! Não que houvesse festa, no entanto, era um momento de reunir a família. Isso já lhe trazia uma enorme satisfação. Quando íamos para a casa de praia de minha irmã para comemorar essa data, ela ficava radiante. Ouvia as músicas em volta da fogueira, frente à mesa farta de comida e bebida. Virava criança! Queria provar das comidas típicas, nem que fosse um pouquinho. Mamãe era uma figura! Se estivesse com os filhos próximos sentia-se regozijada, nada lhe dava mais prazer e alegria do que estar com sua prole. Como quase todas as mães era muito apegada a todos nós.
Quando casei, mamãe custou a se conformar, pois achava que eu ia ficar solteirona sob sua proteção. Ela sempre foi insegura, carente, precisava a todo o momento que os filhos estivessem por perto. Mal sabia que ela é que era o nosso Porto Seguro...
Por isso, neste mês, fico a me perguntar por que não consigo me motivar para os festejos. Como diz o ditado popular: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Talvez haja uma explicação plausível, porém ainda não pude atinar toda a complexidade.
Dia de São Pedro vou meditar sobre a vida desta senhora que viveu quase 90 anos, plena de alegria e curiosidade por tudo que a cercava. Quem sabe, se lá onde se encontra não esteja em festejos com toda a corte celeste! Pois, agora, lembrando sua imagem, vejo-a iluminada, com um sorriso tímido nos lábios, abrindo os braços para enlaçar todos nós, seus filhos, com afeto e muito amor. Este gesto e o seu olhar diziam-nos coisas do infinito, dada a sua sabedoria e perspicácia.
Minha memória afetiva está presa a lembranças de um passado que teima em não me deixar...
A FINITUDE DO HOMEM

A morte é solitária... A gente nasce e morre sozinho... Não sei se estas assertivas se conjugam como verdade! De certa forma, sim, mas não na sua totalidade.
O ser humano passa a vida pensando que sua existência é infinita. Vive-se o presente, lembra-se do passado, mas para o futuro não se pensa na possibilidade da morte, pelo menos a curto ou médio prazo. Procura-se, então, não refletir sobre a finitude do homem. Não há tempo para se debruçar sobre a fugacidade da matéria, sobre os mistérios da existência.
A palavra “morte” tem carga muito pesada. Em seu bojo se esconde a perda, a tristeza, a dor, o sofrimento, enfim, tudo o que ninguém quer para si. O sentimento que a palavra imprime não traduz o que realmente almeja qualquer criatura. É mais cômodo não se pensar que se caminha na direção dela.
São Francisco a chamava “Irmã Morte”. Devia considerá-la com a mesma fraternidade que pregava: Irmão Sol / Irmã Lua, ou da mesma forma que falava com as aves e a própria natureza. Os seres humanos não são capazes de entender um gesto de tanta nobreza e espiritualidade! Somente uma pessoa especial, um santo, teria uma atitude tão simples para encará-la.
O Salmo diz: “O homem é semelhante ao sopro da brisa, seus dias são como a sombra que passa”.
Passa-se a vida inteira lutando para se construir um amor, elos de amizade, bens, crescimento pessoal e profissional, viver bem, atingir metas, nunca imaginando que não se vai realizar. Porque não se dá conta que o tempo vai passando e, a cada dia, subtraindo a passagem pela terra.
Muitas vezes, no auge da caminhada, ela aparece, rondando, perscrutando como a querer ceifar uma vida ainda plena e promissora. É uma realidade que ninguém quer admitir. Por isso, quando alguma criança ou jovem partem mais cedo é difícil aceitar. Pois custa até se admitir que os idosos possam fazer sua viagem definitiva, uma vez que já palmilharam uma estrada longa.
A morte ainda é um Mistério para o homem. A dimensão desse mistério envolve uma gama de indagações, contradições, dúvidas que não se sabe como discernir à luz da razão. Somente através da fé, ou da força interior de uma crença, da espiritualidade inerente à pessoa humana, se pode tentar entender com certa dificuldade.
No entanto, tem-se que compreender que ninguém está neste mundo para semente, como se diz. Essa é uma viagem que todos vão fazer, só não se sabe qual é a “parada” em que o passageiro deverá descer.
Ele, com certeza, vai descer sozinho, embora esteja acompanhado de tantos outros passageiros.